segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Porque o interior da Inglaterra vale à pena: Fountains Abbey

Vem cá, chega mais perto... isso, mas um pouquinho mais... Aí, tá ótimo! Agora me conta um segredo: qual o lugar mais incrível que você já viu na sua vida? Aquele que você, ao mesmo tempo, não quer se mexer para não perder a vista, mas quer conhecer tudo nos mínimos detalhes. E você deseja que seus olhos fossem como uma máquina fotográfica, com um zoom potente, memória expansível, controle de luminosidade e brilho para capturar o momento com a maior vivacidade possível. Não importa o sol, a chuva, a neve ou a névoa, cada um te possibilita uma interpretação e um sentimento diferente. De tão lindo você, simultaneamente, é capaz de sorrir e de chorar porque alguma coisa naquele lugar todo te tocou - ainda que você não tenha ideia nenhuma do que seja. E no final, você pensa, "eu poderia ter qualquer casinha aqui e viveria feliz e tranquilo o resto da vida".  Sim, o homem criou a bomba atômica, a pólvora, as armas. Contudo, construiu, também, lugares assim, doces, silenciosos, que nos dão paz. Fountains Abbey, no meio do nada com lugar nenhum lá no norte da Inglaterra, faz a gente se sentir assim. E querer mais. 




De um dos mosteiros mais ricos do país no século 12  até um Patrimônio da Unesco onde é possível cruzar com animais silvestres, cavalgar, atravessar pontes seculares e ouvir o silêncio da natura: o correr da água por um córrego natural, pássaros e patos silvestres, o vento nas árvores. É o lugar perfeito para quem quer fugir dos roteiros tradicionais e lotados de turistas. Fountais Abbey reúne, em mais de 3 milhões de metros quadrados (ou 323 hectares), as ruínas  de arenito fundada por monges beneditinos e um "jardim aquático", em estilo francês, construído apenas no século 18, bem como templos e estátuas em estilo clássico, o que confere ao local belos contrastes entre o rústico e "moderno". 


Acima Fountains Abbey, construída no século 12, e abaixo o contraste com o "jardim aquático" em estilo francês, modelado no século 18, com o "Temple of Piety" (dedicado a Hércules), ao fundo

Chegar lá é fácil, só é cansativo. O parque fica há alguns quilômetros da pequena Ripon, que não conta com estação de trem ou serviço direto de Londres.  O transporte coletivo de Leeds, terceira maior cidade da Inglaterra, oferece uma linha convencional para Ripon (linha 36, você consegue baixar a tabela de horários direto no site da transdev) e custa apenas 6,20 libras incluindo o retorno. O trajeto dura em torno de 1h 15min. Ao chegar no outro município, embarque no micronônibus da linha 139 e 15 minutos depois você estará na porta do parque "Fountain Abbey e Studley Royal". Este trecho custa 3,50 libras (com retorno) e se apresentar a passagem na bilheteria do parque  é concedido desconto de 50% no valor da entrada. Neste caso, adultos pagam apenas 4,50 libras. Dá para conferir a tabela do horário dos ônibus entre Ripon e Fountais Abbeys no site do dales bus, além do trajeto de carro (carro você opte por alugar um) na página oficial do parque. O local é super bem estruturado e conta com dois restaurantes e banheiros públicos (limpos!). Mas, atenção, encha a garrafinha e faça um xixizinho antes de iniciar a caminhada, já que os pontos de atendimento ao turista estão localizados um em cada entrada do local. 

Chegue cedo para aproveitar ao máximo e olhar tudo com calma (os portões são abertos as 10h e a última entrada é as 16h) e não esqueça de casacos, luvas e sapatos impermeáveis (tipo galocha ou botas para acampamento). Lembre-se, você estará no meio da floresta, então já será naturalmente mais frio e úmido, e esta época do ano a situação é ainda mais difícil, peculiar. De maneira geral, Fountains é bem estruturado para receber cadeirantes ou pessoas com mobilidade reduzida (rampas de acesso ao interior das ruínas, terreno plano, trilhas com boa manutenção), mas é sempre bom observar no mapa as indicações do grau de dificuldade de acesso.

Comece o passeio pela Abadia e prepare o fôlego (em todos os sentidos). Vale atenção especial a dois lugares: o primeiro é o Cellarium, ou a despensa. Sustentada por 19 pilares e com comprimento de 90 metros era utilizada para guardar lã, que os monges vendiam à Veneza e Florença. O salão é escuro e úmido, e a luz que entra vem somente das largas portas em formato de "V" invertido (tradicional nesse estilo gótico). Logo à  esquerda, estão as ruínas da enfermaria, observe uma enorme cruz de madeira em frente a uma das janelas que tem vista para o rio. É tudo tão escuro e úmido que realmente não tinha como a enfermaria não viver lotada para cuidar das "tosses compridas" e "bicho de pé" dos monges e viajantes que passavam pela região. O teto é outro espetáculo, todo desenhado com pequenos tijolos, em vários sentidos, o que conferem desenhos lindos ao local. É simples e elegante. 

Outro ponto alto é a própria igreja. O altar, com cerca de 10 metros quadrados, fica em frente  a um vitral com 18 metros de altura. É incrível! Dá para imaginar a luz que entrava por aquele lugar quando tudo estava de pé? As colunas também estão intactas é uma loucura tentar formular como seria aquela construção com uma altura total de mais de 20 metros de altura. Além disso, a importância que tinha para a vida da comunidade ao redor é inegável. Lugares assim, significavam um porto seguro para mulheres, crianças e idosos em épocas de guerra, abrigo e comida quente para mendigos e viajantes e conforto espiritual para aqueles que tinham como única alternativa tratar da saúde com panos quentes, emplastros de ervas e orações. A riqueza e prosperidade do local terminaram no século 16 quando o rei Henrique VIII (aquele que divorciou-se da mulher, foi expulso da igreja católica e fundou a religião anglicana) ordenou o fechamento de todos os mosteiros e se apossou dos tesouros para financiar as conquistas da Inglaterra ao redor do mundo. 




De cima para baixo: despensa, vista da enfermaria e o alter principal

Já cansou? Calma que ainda tem mais caminhada! 

O "jardim aquático" fica logo à frente e vai te dar o merecido descanso. Se o dia estiver ensolarado aproveite e faça um pic-nic à beira do lago. Aproveite os passeios pelos gramados e observe as esculturas em mármore no meio dos lagos, o "Temple of Piety" e simplesmente deixe-se envolver pelo silêncio. Depois de alimentar o corpo, a dica é uma subida até o mirante "Recanto de Ana Bolena", uma alcova em estilo gótico em que se dá para ter uma visão geral dos lados com a Abadia ao fundo. É "maravilindo"! Vale também uma parada na Torre Octogonal, a visão é de tirar o fôlego. 
Primeira visão do canal 


De cima para baixo: vista do "Recanto de Ana Bolena" e abaixo a  Torre Octogonal

Se depois disso tudo ainda lhe restar disposição e fôlego, do lado de fora do parque tem uma trilha que dá acesso à Igreja da Virgem Santa Maria, construída no século 19 em estilo gótico. A entrada é gratuita e o pessoal pede doação para ajudar a manter o local. 



Sabe aquela energia que esperamos encontrar em lugares ermos ou apenas em contato com a natureza? Encontrei aqui. E em Fountains Abbey eu chorei sem saber o porquê. Eu sorri sem saber o porquê. Eu quis que meus olhos se transformassem em uma máquina fotográfica e ao mesmo tempo em que desejava não me mover, queria conhecer cada detalhe. Eu fiquei com os pés úmidos e quase congelados porque inventei de usar tênis. Mas, no final de tudo eu pensei "poxa, eu podia ter qualquer casinha com lareira aqui e viveria feliz o resto da vida". 

...

E você, já se sentiu assim?  

Estrelinhas a todo mundo =* 
E amanhã tem mais! 

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