sábado, 3 de março de 2012

Eu aprendi a usar sacola retornável


É engraçado o quanto a gente muda sem perceber. Ou só percebe que mudou quando vemos alguém agindo da maneira que costumávamos. Neste caso, o primeiro pensamento é quase sempre "que idiota", para só depois nos atentarmos que aquele na sua frente já foi você um dia. Nesse quase um ano fora do país, já percebi que mudei em algumas coisas, e uma delas diz respeito ao uso inconsciente das queridas (ou odiadas) sacolas de supermercado. E esse é realmente o tipo de coisa que a gente só percebe o quanto é inútil quando pára de fazer. Hoje posso falar que essa ai em cima é a única sacola de supermercado que trouxe para casa nos últimos meses. E não sinto falta de outras. 



Lembro que há pouco tempo donas de casas brasileiras estavam ensandecidas discutindo no Fantástico como iriam viver sem as sacolas plásticas, já que em São Paulo elas começaram a ser vendidas, ao invés de distribuídas, como sempre foi. A principal preocupação das senhoras era como levariam as compras para casa, ou aonde arrumariam as sacolinhas para colocar nas lixeiras das casas. E eu só pude rir, porque, na verdade, esse "grande" problema não é problema algum por aqui. E nós, brasileiros, que sempre buscamos uma desculpa para copiar ou adaptar modos europeus e norte-americanos, esquecemos que boa parte da cultura destes locais é baseada na renúncia das vontades individuais pelo bem coletivo (o que é beeeem diferente do nosso país, onde provavelmente pensamos que "a colaboração deve ser de todos, menos minha").  Porque se vamos ao supermercado e compramos sabão em pó, alvejante, abacaxi, iogurte e papel higiênico provavelmente teremos quatro sacolas (sem contar as "extras" que levamos para aproveitar em casa. Quem nunca fez isso?). 

Por aqui é tudo muito simples. Você tem sua sacola retornável e a leva ao supermercado todas as vezes. Esqueceu? Tudo bem, pode comprar outra no estabelecimento (também retornável) por 25 cents. A sacolinha para as lixeiras de casa existem, mas você também paga pela embalagem com 20 unidades. É uma questão de costume e pronto e ponto. Claro que já esqueci minha sacola algumas vezes, mas basta deixá-la em lugar visível e o problema estará provavelmente resolvido -  a minha fica pendurada em uma das cadeiras da cozinha, próximo à porta, assim não tem como esquecer. Diferente do que parece, elas são bem espaçosas, bastando organizar bem as coisas dentro. É claro que tem uma diferença de hábito bem marcante: na Europa não existe a cultura de "compras do mês", todo mundo vai ao supermercado uma ou duas vezes por semana, para fazer as compras de acordo com a necessidade daqueles dias ( o que acaba evitando desperdício). Essa talvez seja a maior barreira a ser transposta no país para que as pessoas realmente adotem as retornáveis (e não apenas por modismo), mas acho que todo mundo pode se programar para ir ao supermercado ou usar caixas de papelão ao invés de dezenas de sacolinhas plásticas.

Sob a ótica capitalista esta é uma ótima oportunidade para redução de custos das lojas (e provavelmente o preço dos produtos não será reduzido por conta disso), mas política de responsabilidade social deve ser "social". "Ah, mas vamos trocar pelas biodegradáveis", muitos argumentam. O que pouca gente sabe e outros menos fazem questão de contar, é que a tal facilidade para decomposição é apenas sob algumas circunstâncias. E vou contar que as tais sacolinhas não foram abolidas somente nos supermercados europeus. Em qualquer loja que você vá, o vendedor irá perguntar se você realmente precisa de uma sacola para as compras - e a mesma coisa para a impressão do recibo ou nota fiscal. E você se acostuma e apreende que faz parte de toda essa cadeia produtiva e que também é responsável pelo futuro dela (e seu. E dos seus). Hoje não consigo mais me imaginar indo ao supermercado e voltando cheia de sacolas plásticas, ou comprando uma blusinha e saindo da loja com uma sacola enorme se eu uso uma bolsa grande. 

Com o tempo, a gente percebe a quantidade incrível e absurda de sacolinhas que usávamos - e esse é um hábito que não quero readquirir quando voltar ao Brasil - e que podemos viver muito bem e normalmente sem tudo isso. Você já pensou nisso?Não me sinto infeliz por usar sacola retornável. Não me sinto injustiçada. Não sinto que seja um grande esforço carregar as compras em uma sacola só ou me organizar para ir ao supermercado mais de uma vez por semana. Hoje, o que eu sinto é que é apenas um dever no meu direito de usufruto dos bens da sociedade. 

E vocês, já adotaram as retornáveis ou tentaram incluí-las na rotina? Como foi isso? 

=* e amanhã tem mais,
agora vou pegar a minha retornável e ir ali abastecer a geladeira para os próximos dias :)

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