A pior cantada da minha vida

Sei que estamos bem no meio de um passeio pela capital inglesa, mas preciso contar um bapho para vocês. 

Toda mulher já passou por isso! Aquele tipo de cantada que a gente não sabe se fica com cara de espanto ou com jeito de indagação, pensando se entendeu mesmo ou se "aquilo" foi, de fato, uma cantada. E no continente europeu não é diferente. 

O pior é assim como é outra comida, outro transporte é, também, outro tipo de cultura, e até na arte de paquerar a gente acaba ficando perdido por aqui. Por exemplo, pode beijar na boca na balada? Pode cumprimentar com abraço? Para se ter uma ideia, até entre casais de namorados a troca de carinho em público não é muito comum, então, essa  pegação de uma noite é meio difícil de ver por aqui. E por isso que quando a gente é cantada, não sabe se é cantada de verdade. 

Eis que hoje (sim, logo no meu primeiro dia de volta ao continente europeu depois de uma temporada de solo brasileiro), acho que fui cantada duas vezes. Digo acho, porque até agora não sei se foi cantada ou se foi elogio ou, apenas, uma observação. Vejam a história abaixo e me digam a opinião de vocês para ver se chegamos a um consenso: 

Era uma vez, a moça que depois de viajar 13 horas e dormir mais 12 seguidas, teve que levantar as 7h30 para ir à faculdade em pleno inverno de -8ºC com sol brilhando e céu azul (alguém merece?!). Eis que no primeiro dia, todo mundo conhecendo todo mundo de todos os lugares do mundo, estava com minhas colegas em pleno horário de almoço. Uma delas, dos Estados Unidos, estava acompanhada de um amigo que conheceu em uma as aulas introdutórias que tivemos. Conversa vai, conversa vem, fofocando sobre nossas férias em seus respectivos países, eu, como boa brasileira e neurótica por estar sempre com as unhas bem feitas, perguntei a ela (aperta a tecla SAP para tradução simultânea): 

- Ei, Jess, você sabe onde eu compro removedor de esmalte? Pensei que tivesse colocado um na mala, mas acho que ficou no Brasil. 

- Ah, acho que no supermercado você acha. 

- É... mas como é "removedor de esmalte" em holandês? 

- Não tenho ideia. Mas por que? suas unhas estão ótimas.

- Nada, olha aqui, menina!

(nesse meio tempo mostrei minhas unhas a ela para ver a situação triste que se encontra...sabe quando a ponta começa a descascar e a gente quer logo arrancar tudo?! Pois é...)

Em um lapso de segundo, o tal amigo olha para as minhas mãos e...

- Nossa, como suas unhas são bonitas!

-...

E eu, com cara de pastel, sem saber o que falar... O que, unhas? Como assim? Ele não disse mãos, dedos ou braços, sim, pessoal, ele falou u-n-h-a-s, NAILS! Ahn? É isso mesmo? Porque não elogiou logo minhas falanges ou a cartilagem da orelha? 

O que vocês acham, o dito cujo era gay? Isso era para ser um elogio ou foi apenas um comentário para eu me sentir menos frustrada com o esmalte descascando? 

Mas como não termina por aí, eis que à tarde, já no centro da cidade estávamos todas atrás de chip para celular, coisas para casa, roupas para o frio, etc,etc... Depois da andança, decidimos entrar em uma cafeteria para tomar a cafeína do dia e, cidade universitária, já encontramos um outro pessoal que estava na faculdade pela manhã. Sentamos todos juntos. 

Novamente, conversa vai, conversa vem, o Irish Coffee com uma dose de whisky entra e todo mundo fica mais sorridente. Pois bem, lá pelas tantas, um outro indivíduo que eu nunca tinha visto na vida, vira para a minha pessoa: 

- Ei, samba*, como você tem os dentes lindos!

- ... (cara de tacho novamente)

- Você faz alguma coisa, já fez clareamento? 

- Não, só escovo os dentes todos os dias. 

Tudo isso em um dia só é demais para qualquer ser humano, né? 

O que mais me intriga é que visualmente nenhum deles parecia gay. Contudo, por aqui as pessoas são tão peculiares que até meu radar falha de vez em quando, o cara era bem arrumado demais pra ser homem, mas grosso demais para ser gay. O mais engraçado de tudo, é que eu não sabia se ria ou se agradecia, porque essa foi a primeira vez na vida que elogiaram minhas unhas e meus dentes, sabe quando você realmente fica sem reação e o que sobra é um sorrisinho amarelo e um "thank you" em voz baixa?

Pelo meu modesto conhecimento das bandas de cá, acredito que o mocinho das unhas era gay (porque eu nunca vi homem nenhum reparar na "buniteza" da unha de ninguém) e que o outro, bem, o outro eu não consegui decifrar ainda...Aguardo a opinião de vocês! 

E você, depois dessa tragicômica história, conta aí qual foi a pior cantada que você já recebeu! Qual foi? 

Já no aguardo pelos elogios ao meu dedão do pé e depois desse parênteses no meio da viagem, jajá retomaremos nosso passeio Londrino!

=*

*decidiram me chamar de "samba" por aqui. Acho que é devido a toda minha habilidade com o som do pandeiro e rebolado, só que ao contrário.