quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

A quase-tragédia em Liverpool



Por um instante pensei que este blog fosse terminar inesperadamente. Senti que talvez não pudesse mais estar aqui para compartilharmos as aventuras e viagens pelo continente europeu inóspito e gelado. E tudo por conta dela, aí ao lado. Sim, ela. A protagonista de momentos aterrorizantes. A responsável pela entoação de "segura, na mão de Deus/ seguraaaaaa, na mão de Deus".  

Tudo começou após o fatídico passeio do pato. Para relaxar, nada seria melhor que umas voltas na roda-gigante à beira das docas, com a imagem do entardecer e das primeiras estrelas no céu. Perfeito para o registro de algumas imagens noturnas. Chegamos. Sem filas. Éramos as únicas. Pagamos e esperamos até que  a próxima cabine chegasse ao solo e pudéssemos embarcar. Enquanto isso... 

"São quantas voltas?" 
"Três."
"Só três? Não, quatro ou cinco!" (risos, risos, risos)
Entramos e começamos a bucólica viagem rumo ao topo. Contudo, logo percebemos que esse não seria um passeio convencional porque, devido ao previsível inverno europeu, inesperadamente um vento forte começou a soprar (rufar, na verdade) e a chuva batia forte na cabine. Balançava. Nossa, e como balançava. Para completar, a portinhola tinha um vão de alguns centímetros que deixava passar o vento para o interior do local. "Vuuuuuuuuu", "vuuuuuuuu", "vuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu". A uns 50 metros de altura, parecíamos estar penduradas em um trapézio, indo de um lado ao outro. 
A brincadeira não era mais legal, queríamos descer. Contudo, sabe quando te dá raiva porque alguém quis te agradar? O moço da roda-gigante, provavelmente encantado com a beleza das brasileiras e também porque não havia fila, resolveu parar a cabine no topo do brinquedo. Queria que aproveitássemos a vista no meio de uma tempestade? Meu Deus, me desce daqui! 
Ufa, uma volta já foi. Começamos a próxima. E o vento aumentou; cantava nas frestas da cabine. Quero desceeeeer! 
"Já sei, vamos pedir para o moço lá embaixo descer a gente. Aperta o botão", alguém disse. 
E apertamos. "Alô? Alô? A gente quer descer. Desce a genteeeeee". 
Nada. 
No meio da tempestade, o vento cada vez mais forte o botão de emergência da cabine não funcionava!!!! Em uma tentativa desesperada e sôfrega de esconder o medo com a ironia, entoamos em uma só voz "Segura, na mão de Deus...Segura, na mão de Deus... Pois ela, ela te sustentaráááá". Porque, gente, não tem jeito né...nas horas de desespero, além de apertar a mão da mãe a gente apela para o Senhor. Até quem é ateu segura na mão de Deus em uma hora dessa, não é verdade?
Nos aproximávamos do chão. Ao passar em frente à cabine de controle da roda-gigante, tivemos a magnífica ideia de fazermos mímicas tentando sinalizar que estava bom, queríamos parar! Imagina a cena de três brasileiras gritando e abanando com cara de desespero de dentro de uma cabine para o tal controlados que estava há uns dez metros de distância. O resultado foi magnífico. Ele olhou e deu um "tchauzinho", sorrindo para nós. "Ah, que brasileiras simpáticas, como estão se divertindo", ele deve ter pensado. 
"Merdaaaaaa. Para essa roda gigante!!!!!!!! A gente quer descer!!!"
E começamos tudo de novo. Ao menos, era a última volta. 
"Segura, na mão de Deus... Segura, na mão de Deus..." 
E balançávamos de um lado para o outro. A essa altura, a chuva já tinha se transformado em granizo e estávamos vendo o momento da roda começar a rodar verdadeiramente com a gente na cabininha. 
Quanto arrependimento. Se não bastasse o tal pato, agora estávamos fazendo papel de desesperadas!
Sobrevivemos à última volta. Estávamos bem próximas a ponto de desembarque, prontas para descer de lá o mais rápido possível e beijar o chão molhado. Contudo, algo estava estranho. Ele não diminuiu a velocidade. Quis dar um presente às brasileiras: a merda de uma volta de brinde na roda-gigante da morte!!!! E lá fomos nós, novamente cantando, ouvindo o vento e balançando debaixo de granizo e vendaval, torcendo para que não fôssemos esquecidas ou para que nosso amigo não quisesse nos dar uma  outra parada no topo para admirar a paisagem de brinde. 
Nããão, chegaaaa! Só queremos o chããão! Chão, chão, chão!!!!!! 
Depois de outros dez minutos de agonia e quase tragédia, finalmente o querido amigo resolveu nos descer da roda gigante. Com um sorriso simpático veio ate nós. "E aí, gostaram? Meninas, nossos souvenires incluem calendário, chaveiro, caneca, bloco de anotações, porta-retrato e um álbum de fotos com as imagens de vocês por apenas 20 libras".
Abre parêntesis: Oi? Eu entendi bem? Você quase nos fez ter um ataque cardíaco e ainda quer mais 20 libras? Arram. Tá. 
Com as pernas ainda bambas, descemos as escadas em meio à chuva de granizo e vendaval, rumo à pizzaria mais próxima, porque depois da quase-morte a gente merece uma recompensa saborosa, né não, pessoal? 

E você, já passou por alguma situação inusitada? Compartilha com a gente!
E amanhã tem mais!
=* 




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